mundo perfeito

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21.5.08

MUNDO PERFEITO NO ALKANTARA FESTIVAL

A 22 de Maio arranca o alkantara festival 2008 com o espectáculo de abertura Tempest II de Lemi Ponifasio (Nova Zelândia), às 21h00 no São Luiz Teatro Municipal. O espectáculo será seguido por um cocktail no Jardim de Inverno e, à meia-noite, um concerto surpresa. A seguir há festa. Alkantara festival irá decorrer entre 22 de Maio e 8 de Junho. Em 17 dias apresentamos em Lisboa 26 espectáculos, em 78 sessões de artistas vindos de Portugal, Austrália, Índia, Turquia, Nova Zelândia, República Democrática do Congo, Bélgica, Holanda, Grã-Bretanha, Suíça, EUA, Alemanha, Argentina, República Checa, Brasil, Líbano, França, Argélia e Colómbia, em 17 teatros e espaços em Lisboa (Auditório Carlos Paredes, Castelo de São Jorge, Centro Cultural de Belém, Culturgest, Espaço Alkantara, Espaço Land, Hospital Miguel Bombarda, Museu da Electricidade/Central Tejo, Museu do Oriente, Palácio Nacional da Ajuda, Maria Matos Teatro Municipal, São Luiz Teatro Municipal, Politécnica, Teatro Meridional).

O MUNDO PERFEITO NO ALKANTARA
No Alkantara festival, o Mundo Perfeito apresenta o espectáculo "Yesterday's Man", de Tiago Rodrigues, Rabih Mroué e Tony Chakar nos dias 27, 28, 29 e 30 de Maio, sempre às 19h, no teatro da Politécnica.

YESTERDAY’S MAN resulta do primeiro encontro artístico entre Tiago Rodrigues e o encenador, actor e autor libanês Rabih Mroué, a convite de Alkantara e no âmbito do projecto Sites of Imagination. A esta dupla juntaram-se o arquitecto e escritor libanês Tony Chakar e o cenógrafo e desenhador de luzes belga Thomas Walgrave. YESTERDAY’S MAN estreou em Girona e foi apresentado em Lisboa, Cagliari, Marselha e Liubliana.

APRESENTAÇÕES DE WORKSHOPS DO PROJECTO ESTÚDIOS
Ainda no âmbito da parceria entre Mundo Perfeito e Alkantara para o projecto ESTÚDIOS, serão feitas apresentações públicas do resultado final dos workshops dirigidos pelo coreógrafo congolês Faustin Linyekula (que apresenta o espectáculo "Dinozord" no Alkantara Festival) e por Pavol Liska e Kely Copper, directores artísticos dos Nature Theatre of Oklahoma (que apresentam o espectáculo "No Dice" no Alkantara Festival).

A FESTA DE FAUSTIN
Workshop dirigido por Faustin Linyekula
Apresentação pública do trabalho a 29 de Maio, às 23H, Espaço Land
(R. Nova do Carvalho, 77 – 2º andar, Cais do Sodré)
O coreógrafo Faustin Linyekula é uma das mais importantes figuras das artes no Congo. Tendo começado a sua carreira no teatro, o que viria a marcar a sua criação coreográfica, Linyekula desenvolveu a sua carreira de coreógrafo na Europa, colaborando com alguns dos mais interessantes projectos da dança contemporânea. Naquilo que foi classificado como uma “escolha de resistência”, abandona o seu percurso europeu e regressa ao Congo para fundar o Studio Kabako. Com essa estrutura, tem criado as suas obras nos últimos anos, criando um espaço artístico inovador no seu país natal e continuando a fazer digressão na Europa, nomeadamente no Festival de Avignon, onde a sua mais recente peça foi apresentada.


A FESTA DE PAVOL E KELLY
Workshop dirigido por Pavol Liska e Kelly Copper
Apresentação pública do trabalho a 1 de Junho, às 19H, no Teatro Maria Matos
O eslovaco Pavol Liska e a norte-americana Kelly Copper são os directores artísticos e encenadores da companhia Nature Theatre of Oklahoma. Com mais de uma década de existência, esta companhia afirmou-se como um dos mais originais projectos de teatro contemporâneo nos Estados Unidos, tendo apresentado o seu trabalho à escala global. No seu repertório podemos encontrar adaptações de autores clássicos como Tchekov ou Odon von Horvath e também criações a partir de textos inéditos ou gravações de conversas reais, numa diversidade de fontes que contribuem para uma obra onde tanto a crítica como o público reconhecem uma capacidade invulgar de dissecar o funcionamento das sociedades ocidentais.

19.5.08

13 metros a oeste (Bergen)


Sven Agen Birkeland, director do Teatergarasjen, cozinhou bacalhau para o jantar. A companhia visitante e toda a equipa do teatro estão presentes. “Hoje temos cá um português”, exclama Sven. “É uma responsabilidade muito grande cozinhar bacalhau para um português”.
Há lugares onde voltamos como se voltássemos a casa. São os lugares cujos cheiros reconhecemos, numa colaboração sempre misteriosa entre a memória e o olfacto. São os lugares que nos fazem sorrir sem que saibamos porquê. Bergen, cidade encaixada entre as montanhas e os fiordes da costa atlântica da Noruega, é um desses lugares para mim.
“Em 98, em 2001, em 2003, em 2005 e agora”. Eu e o Sven fazemos contas de cabeça para chegar ao cálculo final: é a quinta vez que venho ao Teatergarsjen, espaço mítico do teatro alternativo em toda a Escandinávia durante os últimos vinte anos. Foi aqui que gente como Meg Stuart ou os Forced Entertainment, entre muitos, muitos outros, foram apresentados pela primeira vez nesta parte do mundo. “É a quinta e última vez”, acrescenta Sven. Todo o quarteirão onde está encaixado o Teatergarasjen, à beira mar, vai ser demolido e urbanizado por uma empresa privada. A obra começa daqui a um mês. A reconstrução do teatro faz parte do contrato com a cidade. “Vai ser um teatro novo, mais confortável, com mais material técnico, com muito melhores condições de trabalho”, é o que diz Sven durante o jantar. Di-lo mais para si próprio do que para nós. Basta ver a nostalgia com que olha para as paredes do teatro, ainda por demolir, para perceber que ainda não aceitou a ideia de habitar um teatro novo, um teatro que seja verdadeiramente um teatro, em vez desta antiga fábrica transformada em teatro precário.
O teatro será reconstruído praticamente no mesmo lugar. “Vai estar 13 metros mais para oeste”, informa Sven, com o rigor e devoção de um miúdo a falar da sua colecção de borboletas. “Da próxima vez que voltarem cá, vamos estar exactamente no mesmo sítio, mas 13 metros mais a oeste”, graceja. E eu penso que não são 13 metros a oeste que vão matar a alma do Teatergarasjen. Pode ser que o construam novinho em folha, imaculado, mas depressa ganhará as suas sujidades, cicatrizes, histórias. O tempo pode muito.
“Então e o bacalhau? O que é que o especialista acha do meu cozinhado?”, questiona Sven com a exuberância a que o final da refeição já obriga, aplicado também em afastar a nuvem de nostalgia que paira sobre nós. “Perfeito”, respondo eu.
Para dizer a verdade, o bacalhau não estava grande coisa. Mas quando respondi “perfeito”, não estava a mentir. Estava a falar de outro fiel amigo.

Tiago Rodrigues
Dezembro de 2007
(originalmente publicado no suplemento Actual do semanário Expresso)

14.5.08

Yesterday's Man em Faro

O espectáculo YESTERDAY’S MAN vai ser apresentado no Espaço CAPa, em Faro, dias 16 e 17, sexta e sábado, às 21h30.

YESTERDAY’S MAN resulta do primeiro encontro artístico entre Tiago Rodrigues e o encenador, actor e autor libanês Rabih Mroué, a convite de Alkantara e no âmbito do projecto Sites of Imagination. A esta dupla juntaram-se o arquitecto e escritor libanês Tony Chakar e o cenógrafo e desenhador de luzes belga Thomas Walgrave. YESTERDAY’S MAN estreou em Girona e foi apresentado em Lisboa, Cagliari, Marselha e Liubliana. De 27 a 30 de Maio Maio será apresentada no Teatro da Politécnica, em Lisboa, inserido na programação do Alkantara Festival.

Sinopse
Um português visita a cidade de Beirute ano após anos. Ele é várias pessoas que são sempre a mesma. Vários homens iguais que, ano após ano, percorrem o mesmo caminho, durante um dia, no centro de Beirute. A cidade vai mudando, vai-se metamorfoseando mercê da erosão do tempo e das convulsões da História. Este homem sempre igual acaba por viver dias diferentes, a cada visita. Os dias que a cidade mutante lhe permite viver. Este espectáculo parte da hipótese de que em cada cidade existe uma outra cidade subterrânea e por baixo dessa existe ainda uma outra cidade e assim sucessivamente, num infinito de cidades escondidas que o tempo vai revelando de forma imprevisível. Essas cidades subterrâneas são tanto o passado como o futuro, são tudo o que já não ou ainda não existe no presente.

Equipa
um espectáculo de Rabih Mroué, Tiago Rodrigues e Tony Chakar com Tiago Rodrigues cenário e desenho de luzesThomas Walgrave assistente Joelle Aoun
produção executiva Magda Bizarro
Uma produção Mundo Perfeito e Alkantara. Projecto financiado por DGA, Ministério da Cultura, com os apoios de Instituto Camões, Ashkal Alwan e Teatro Maria Matos.

11.5.08

Beirute

Há pouco mais de duas semanas, o Mundo Perfeito estava em cena no Teatro Masra Al-Madina, em Beirute, com o espectáculo "Yesterday's Man", inserido na programação do festival Home Works, organizado pela associação Ashkal Alwan. A realidade cabia num cartaz colado numa parede.

Robert Fisk: Gun battles as Hizbollah claims Lebanon is at war

Robert Fisk: Gun battles as Hizbollah claims Lebanon is at war
Friday, 9 May 2008


If you want to fight us, you'll have to fight us. This was Sayed Hassan Nasrallah's message to the Lebanese government yesterday and his words were followed within seconds by two massive gun battles in the streets of Beirut.

He had spoken in that careful, thought-through, distressing way in which he always threatens the Hizbollah's enemies. He even swapped the names of the Lebanese Prime Minister, Fouad Siniora, with that of the Druze leader Walid Jumblatt – calling Jumblatt the real prime minister and Siniora his deputy – and blamed both for trying to set up a CIA-Mossad base at Beirut airport. What other reason could there be, he asked, for the two men to demand the dismantlement of Hizbollah's communications system and the suspension of the head of airport security? This was "a Lebanese government declaration of war against the resistance". Well, maybe. But Nasrallah still wants the Hizbollah's enemies to be the Israelis – not his Lebanese opponents.

So what happened in the minutes after he spoke? At least one Shia Amal gunman started shooting at an office belonging to Sunni supporters of the government, some of whom may have been the youths apparently brought down from Tripoli for just such a battle. The Lebanese army was not fully engaged on the streets last night but its armoured vehicles were driving between the sectarian interfaces and apparently taking fire from both sides.

It was a dark and distressing speech by the secretary general of Hizbollah, which came less than 24 hours after the Grand Mufti, Mohammed Kabbani, furiously referred to the Hizbollah as "armed gangs of outlaws that have carried out the ugliest attacks against the citizens and their safety". Needless to say, neither Nasrallah nor Kabbani stated the obvious – that the first represents a large number of the Shia Muslim community and the second most of the Sunnis.

The sectarian background to this dangerous game is the point, of course. The street battles in Beirut are between Shia and Sunni, the first supporting the Iranian-armed Hizbollah, the second the Lebanese government, which now regularly carries the sobriquet "American-backed". In other words, the collapse of Beirut these past two days is part of the American-Iranian conflict – even though, be sure, the Americans will blame the Hizbollah for this and the Iranians will blame the Americans.

Yet still the language of Nasrallah – like that of Kabbani – was frightening, even though he had behind him the national flag of Lebanon with its green cedar tree as well as Hizbollah's own yellow banner. To call Jumblatt "a liar, a thief, a killer..." – though this view might be heartily reciprocated by Jumblatt himself – is language that puts Lebanese in danger of their lives.

Nasrallah's complaint that the suspension of Wafiq Chucair as head of airport security was part of an American-Israeli plot might sound a bit much, but his long and point-by-point insistence that Hizbollah should maintain its new communications links – including its cameras along the Beirut airport perimeter – was perhaps more reasoned, albeit that it helps allow his organisation to remain part of a state with the state. Wireless communications can easily be tapped, he said, and he added that new communications were the "most powerful tool" in Hizbollah's 2006 war against Israel.

Nasrallah intriguingly pointed out that Siniora's government had previously told the Hizbollah that it would allow the secure communications circuits to remain if the movement closed down its largely empty "tent city" in the centre of Beirut. Indeed, it has largely been in place for more than a year. Hizbollah had no argument with the Lebanese army – a view that might not be shared by General Michel Sulaiman, its commander, who stated yesterday that the situation is "threatening the army's impartiality".

All of which continues Lebanon's crisis. Beirut airport remained largely empty of aircraft yesterday – the Christian daily L'Orient Le Jour rightly suggested that it had been taken hostage by Hizbollah, who control all roads to the terminal – and there were brief gun battles between government and opposition supporters in the Bekaa Valley town of Saadnayel. Yet again, burning tyres were set up in areas demarcating Shia and Sunni districts, and the army closed the Corniche Mazraa highway, which divides west Beirut. By last night it was the scene of a gun battle. Kuwait urged its citizens to leave Lebanon – without being obliging enough to tell them exactly how to perform this task without an airport.

10.5.08

"A Partir de Amanhã" no Cine-Teatro de Gouveia, hoje!

"A Partir de Amanhã" foi criado para o café-teatro do Maria Matos, em Lisboa, e agora continua a sua vida, numa digressão que vai durar todo o ano de 2008, visitando capitais de distrito, vilas e até, quem sabe, uma ou outra aldeia. Desafiando os circuitos de digressão e capitalizando os efeitos artísticos de um cálice de moscatel, Cláudia Gaiolas apresenta este espectáculo já hoje, sábado, dia 10 de Maio, às 21 horas, no Cine-Teatro de Gouveia.


“A partir de amanhã” é um espectáculo encenado e interpretado por Cláudia Gaiolas, a partir dum texto inédito de Tiago Rodrigues, escrito em colaboração com a actriz. Explorando as noções tão contemporâneas de tempo, da sua gestão e organização, este espectáculo pretende tratar o tempo também como uma utopia. Em última análise, o tempo é a grande utopia contemporânea no mundo ocidental e globalizado tecnologicamente.

“A partir de amanhã” é a história de uma mulher que imagina a sua agenda a partir do dia em que está a falar com o público. Se o espectáculo acontece a 12 de Junho, a protagonista desta história contar-nos-á a sua vida, dia a dia, a partir do dia 13 de Junho. Esse território inóspito e pragmático que é a agenda, torna-se assim um espaço de sonho, esperança, humor e frustração.

Ao imaginar a sua agenda futura, esta mulher faz um retrato de si própria, mas também de quem ela gostaria de ser e de quem ela sabe que nunca conseguirá ser. Alcançar a felicidade é o compromisso que está marcado para as 10h de terça, mas às 14h do mesmo dia continua a ser necessário entregar o modelo 3 do IRS.

Gouveia - Teatro-Cine
Sáb 10 de Maio, 21h30
Tel: 238 084861
E-mail: gouveia.cinecultura@gmail.com
http://www.cm-gouveia.pt/TEATROCINE/


Encenação e interpretação Cláudia Gaiolas
Texto Tiago Rodrigues
Apoio técnico João D’Almeida
Apoio de produção Magda Bizarro

7.5.08

A ovelha negra (Cardiff)


É uma workshop de um dia com o objectivo de falarmos da forma como trabalhamos. Há actores, estudantes de teatro, encenadores. A maior parte assistiu ao nosso espectáculo ontem à noite. Começámos há cerca de dez minutos. Um dos participantes, o mais velho entre nós, homem a atirar para os seus 65 anos, intervém com um inglês de sotaque carregado. “Vi o vosso espectáculo e é a coisa mais parecida que já vi com uma boa missa”.
Estamos numa antiga sala de aula do Chapter, antiga escola de Cardiff que nos anos sessenta foi transformada em centro cultural e se tornou num marco do teatro britânico. Somos vinte pessoas sentadas em círculo, entre os quais os outros dois actores com quem fiz o espectáculo. Entreolhamo-nos, provavelmente pensando os três a mesmíssima coisa. Já ouvi muitas opiniões sobre os espectáculos que faço, mas a comparação com uma missa é um elogio, no mínimo, preocupante.
Entre os vários comentários ao nosso trabalho que pontuaram o início do dia de trabalho, este destacou-se por não parecer vindo de uma pessoa de teatro. “É verdade”, explica-nos John. “Eu não faço teatro. Pelo menos, do mesmo modo que vocês. Eu sou padre”. Explico-lhe que, correndo o risco de parecer preconceituoso, estou surpreendido por ver um padre no teatro, ainda mais a participar numa workshop. John não acusa a pequena provocação. “Estou aqui para aprender coisas que me possam ajudar a servir melhor o meu rebanho. Se o meu público saísse da Igreja tão entusiasmado como o vosso saiu do teatro, ficava feliz”. E, com humor, acrescenta: “se calhar sou a ovelha negra do vosso rebanho, mas ainda vou a tempo de aprender”.
É numa pequena vila do Pais de Gales, terra de nome gaélico indizível perdida no verde das paisagens infestadas de ovelhas, que John pastoreia o seu rebanho. E é nítido que não está disposto a regressar a casa sem novas técnicas litúrgicas. Enquanto outros participantes nos falam em jargão teatral, perguntando onde nos colocamos entre Stanislavsky e Brecht, John emprega termos como “espiritual” ou “inspirado”. Quando falamos da forma como o público pode influenciar o que fazemos, John volta à carga: “na minha linguagem, chamamos a isso comunhão”. No entanto, o mais surpreendente é que, apesar do vocabulário deslocado, é claro para nós que John é, entre os presentes, um dos que melhor compreendeu o que tínhamos para dizer.
No final do dia, pergunto-lhe se não percebeu a minha provocação, quando disse estar surpreendido por ver um padre no teatro. “Dear Tiago”, diz John, “se eu não encarasse com a naturalidade vir a uma peça tua, como é que poderia encarar com naturalidade tu um dia vires à minha igreja?”. É verdade que, dependendo dos dias, qualquer um de nós pode ser a ovelha negra.


Tiago Rodrigues
Dezembro de 2007
(originalmente publicado no suplemento Actual do semanário Expresso)

6.5.08

Workshop de Nature Theatre of Oklahoma - Inscrições só até amanhã

ESTÚDIOS é um projecto de formação e criação, do qual fará parte um workshop dirigido por Pavol Liska e Kelly Copper, directores artísticos da companhia Nature Theatre of Oklahoma. Este workshop é aberto a profissionais e estudantes das artes do espectáculo, mas faz também parte do processo de criação de A FESTA, espectáculo que irá estrear a 3 de Julho no Teatro Maria Matos. As inscrições para este workshop já estão abertas em www.teatromariamatos.egeac.pt.

Além deste workshop, os Nature Theatre of Oklahoma irão apresentar o seu espectáculo "NO DICE" em Lisboa, na programação do Alkantara Festival (www.alkantarafestival.pt). Aqui podem ver um excerto deste espectáculo que tem afirmado esta companhia como um dos mais inovadores projectos de teatro não só nos Estados Unidos mas também na Europa.



A FESTA DE PAVOL E KELLY
Workshop de teatro dirigido por Pavol Liska e Kelly Copper (Nature Theatre of Oklahoma)
De 22 a 31 de Maio das 14h às 18h na Sala de Ensaios do Teatro Maria Matos
Apresentação pública do trabalho a 1 de Junho, às 19H, no Teatro Maria Matos
Tempo total de trabalho: 40 horas
Limite de participantes: 12
O workshop será dado em Inglês

“Os directores artísticos do Nature Theater of Oklahoma, Pavol Liska e Kelly Copper irão trabalhar em Lisboa com actores, durante dez dias, num esboço preliminar de um espectáculo. Irão usar os seus métodos únicos tendo como objectivo a criação de um texto original e uma versão cénica com os participantes. Ninguém deverá ter ideias preconcebidas do que será este workshop. Nature Theater of Oklahoma consegue sempre superar as expectativas. Acreditamos que as pessoas fazem a melhor arte quando estão a fazer o que não sabem fazer. Tragam uma mente aberta e vontade para contribuir com tudo o que têm.”
Kelly Copper e Pavol Liska

O eslovaco Pavol Liska e a norte-americana Kelly Copper são os directores artísticos e encenadores da companhia Nature Theatre of Oklahoma. Com mais de uma década de existência, esta companhia afirmou-se como um dos mais originais projectos de teatro contemporâneo nos Estados Unidos, tendo apresentado o seu trabalho à escala global. No seu repertório podemos encontrar adaptações de autores clássicos como Tchekov ou Odon von Horvath e também criações a partir de textos inéditos ou gravações de conversas reais, numa diversidade de fontes que contribuem para uma obra onde tanto a crítica como o público reconhecem uma capacidade invulgar de dissecar o funcionamento das sociedades ocidentais.

Período de candidaturas: de 15 de Abril a 7 de Maio
Inscrições no Teatro Maria Matos, através do site www.teatromariamatos.egeac.pt; na bilheteira, de 3ª a domingo das 15H às 22H; ou via postal, para Projecto Educativo Teatro Maria Matos, Rua Bulhão Pato, 1B, 1700-081 Lisboa

Mais informações contacte:
Projecto Educativo Teatro Maria Matos
tel. 218 438 800 ou projectoeducativo.teatromariamatos@egeac.pt

Uma produção Mundo Perfeito e Teatro Maria Matos
Co-produção Festival de Almada 2008, Alkantara Festival, CAPa e Casa das Artes de Vila nova de Famalicão

Workshop de Faustin Linyekula - Inscrições só até amanhã

ESTÚDIOS é um projecto de formação e criação, do qual fará parte um workshop dirigido pelo coreógrafo congolês Faustin Linyekula. Este workshop é aberto a profissionais e estudantes das artes do espectáculo, mas faz também parte do processo de criação de A FESTA, espectáculo que irá estrear a 3 de Julho no Teatro Maria Matos. As inscrições para este workshop já estão abertas em www.teatromariamatos.egeac.pt.

Além deste workshop, Faustin Linyekula irá apresentar uma das suas criações em Lisboa, na programação do Alkantara Festival (www.alkantarafestival.pt). Aqui podem ver um excerto de um espectáculo de Faustin Linyekula.

A FESTA DE FAUSTIN
Workshop dirigido por Faustin Linyekula
20, 21, 22, 23, 24 e 28 de Maio das 14h às 19h
no Espaço Land (R. Nova do Carvalho, 77 – 2º andar, Cais do Sodré)
Apresentação pública do trabalho a 29 de Maio, às 23H, Espaço Land (R. Nova do Carvalho, 77 – 2º andar, Cais do Sodré)
Tempo total de trabalho: 36 horas
Limite de participantes: 12
O workshop será dado em francês e/ou inglês

O coreógrafo Faustin Linyekula é uma das mais importantes figuras das artes no Congo. Tendo começado a sua carreira no teatro, o que viria a marcar a sua criação coreográfica, Linyekula desenvolveu a sua carreira de coreógrafo na Europa, colaborando com alguns dos mais interessantes projectos da dança contemporânea. Naquilo que foi classificado como uma “escolha de resistência”, abandona o seu percurso europeu e regressa ao Congo para fundar o Studio Kabako. Com essa estrutura, tem criado as suas obras nos últimos anos, criando um espaço artístico inovador no seu país natal e continuando a fazer digressão na Europa, nomeadamente no Festival de Avignon, onde a sua mais recente peça foi apresentada.


Período de candidaturas: de 15 de Abril a 7 de Maio
Inscrições no Teatro Maria Matos, através do site www.teatromariamatos.egeac.pt; na bilheteira, de 3ª a domingo das 15H às 22H; ou via postal, para Projecto Educativo Teatro Maria Matos, Rua Bulhão Pato, 1B, 1700-081 Lisboa
Mais informações contacte: Projecto Educativo Teatro Maria Matos
tel. 218 438 800 ou projectoeducativo.teatromariamatos@egeac.pt
Uma produção Mundo Perfeito e Teatro Maria Matos
Co-produção Festival de Almada 2008, Alkantara Festival, CAPa e Casa das Artes de Vila nova de Famalicão

4.5.08

O covil do dragão (Aberystwyth)


À chegada, já de noite, somos conduzidos para fora da cidade. Percorremos caminhos cada vez mais estreitos, ao ponto de o carro caber com dificuldade entre as sebes que delimitam a estrada. Estamos no meio dos montes. Não há luzes à volta. A nossa anfitriã e condutora, directora do Departamento de Teatro da Universidade de Aberystwyth, anuncia: “chegaram a casa”.
Depois de vários meses de digressão, o anúncio assim a quente de que “cheguei a casa” é um pouco desconcertante. A “casa” é uma cottage no meio do campo, cercada por um intenso cheiro a estrume que, depois do incómodo inicial, se torna particularmente reconfortante. Na manhã seguinte já nenhum dos meus companheiros de digressão, entre os quais se contam os actores, técnicos e a produtora da companhia belga tg STAN, se queixam do cheiro. Sobretudo quando descobrem a paisagem que nos rodeia e que ontem era só negrume. Ao longe, vemos Aberystwyth, a cidade onde hoje apresentamos o nosso espectáculo. No centro da imponente baía de Cardigan, uma das mais celebradas paisagens do País de Gales, Aberystwyth é uma pequena cidade cuja metade da população são estudantes universitários e é também conhecida por ter sido a região onde viveu o último dragão do mundo. Há até uma gruta que se pode visitar onde viveu, garantem a pés juntos os nativos, o último dragão das ilhas britânicas. Estamos, portanto, numa cidade onde realidade e fantasia se misturam, o que não é difícil de acreditar quando observamos as quantidades de cerveja consumidas pela população universitária.
É a primeira vez nesta digressão que nos confrontamos com uma paisagem rural. Habituado a hotéis e apartamentos nos centros das cidades, ofuscado pelas luzes e pelo trânsito urbanos, reajo com estranheza à convivência com as ovelhas e as galinhas que rodeiam a casa onde agora estamos. Depois do ritmo alucinado do Cairo, da modernidade de Estocolmo, da intensidade de Beirute ou da força de Berlim, Aberystwyth, além de ser a primeira cidade onde faço digressão cujo nome não consigo pronunciar (e escrevo-o com admitida dificuldade), é também o primeiro lugar onde me sinto completamente deslocado.
Durante os últimos meses, cumpri o exercício de me tentar encontrar em cada uma das cidades por onde fui trabalhando. De uma forma ou de outra, havia um lugar para mim, porque há sempre lugar para um estrangeiro ou um estranho na arquitectura humana das cidades. No campo, no entanto, no meio da beleza verdejante e organizada de Gales, sou mais que isso: sou um intruso. E quando a nossa anfitriã nos vem buscar para irmos para a cidade, preparar o espectáculo desta noite, não posso deixar de sentir um certo alívio em abandonar esta casa campestre. E sinto até uma certa pena desse último dragão que habitou a tranquila Aberystwyth e nunca teve a oportunidade de ver o resto do mundo.

Tiago Rodrigues
Dezembro de 2007
(originalmente publicado no suplemento Actual do semanário Expresso)

1.5.08

O riso do Eixo do Mal (Damasco)


Faço o papel de um juiz que, em 1925, condenou um professor por ter ensinado a Teoria da Evolução num liceu da pequena cidade de Dayton, no Tenessee. No final da peça, dirijo-me ao público, já após a sentença. Tenho que dizer a frase: “Meus amigos, o povo americano é um grande povo”. E só nesse momento me apercebo do que essa frase pode significar aqui, em Damasco, a capital de um dos países que Bush inclui no Eixo do Mal.
Chama-se Dar el Salam, o maior teatro da Síria, que é também uma escola de artes. É aqui que, esta noite, apresentamos The Monkey Trial, um espectáculo da companhia belga tg STAN a partir das transcrições do célebre julgamento de John T. Scopes, que também já deu origem a um filme protagonizado por Spencer Tracy, intitulado “Inherit The Wind”, em 1960.
Trata-se de um caso mítico na História legal dos EUA e do início de uma longa batalha entre evolucionistas e “criacionistas”, ou seja, entre os defensores de Darwin e aqueles que acreditam que o relato da criação do Homem no Génesis é verdadeiro e deve ser entendido literalmente. É curioso notar como hoje esta controvérsia continua a ser de uma actualidade absoluta nos Estados Unidos. São ainda muitas as escolas públicas onde ensinam às crianças americanas que é um facto científico que Deus criou o Homem quando nele soprou “o sopro da vida” ou que Eva foi realmente criada a partir da costela de Adão.
O espectáculo comprime em duas horas e meia um processo que durou 11 dias, usando uma espécie de Best of das actas do processo. Este espectáculo já foi apresentado em vários países europeus e se mereceu algum entusiasmo por parte do público, isso deveu-se sobretudo à forma do espectáculo, ao óptimo material de texto que origina das actas do julgamento e a um certo prazer na crítica à sociedade americana. Na Síria, no entanto, esta peça é menos sobre o ensino de Darwin e muito mais sobre a relação entre o Estado e a religião, o combate entre uma ideia de Estado laico ou Estado confessional. De súbito, o público reage em partes da peça onde nunca antes tínhamos tido reacções e percebemos rapidamente que não temos qualquer ideia de como o que dizemos pode ser interpretado.
E aqui estou eu, em frente a esta plateia síria, em silêncio. E digo a frase. “Meus amigos, o povo americano é um grande povo”. Alguns segundos de silêncio. E depois uma enorme gargalhada que demora até a fim do espectáculo a desaparecer. Ainda durante os aplausos, há gente no público a rir. Para eles, esta frase não pode ser entendida senão como uma ironia.

Tiago Rodrigues
Novembro de 2007
(originalmente publicado no suplemento Actual do semanário Expresso)

Faustin Linyekula - workshop no projecto ESTÚDIOS

ESTÚDIOS é um projecto de formação e criação, do qual fará parte um workshop dirigido pelo coreógrafo congolês Faustin Linyekula. Este workshop é aberto a profissionais e estudantes das artes do espectáculo, mas faz também parte do processo de criação de A FESTA, espectáculo que irá estrear a 3 de Julho no Teatro Maria Matos. As inscrições para este workshop já estão abertas em www.teatromariamatos.egeac.pt.

Além deste workshop, Faustin Linyekula irá apresentar uma das suas criações em Lisboa, na programação do Alkantara Festival (www.alkantarafestival.pt). Aqui podem ver um excerto de um espectáculo de Faustin Linyekula.

A FESTA DE FAUSTIN
Workshop dirigido por Faustin Linyekula
20, 21, 22, 23, 24 e 28 de Maio das 14h às 19h
no Espaço Land (R. Nova do Carvalho, 77 – 2º andar, Cais do Sodré)
Apresentação pública do trabalho a 29 de Maio, às 23H, Espaço Land (R. Nova do Carvalho, 77 – 2º andar, Cais do Sodré)
Tempo total de trabalho: 36 horas
Limite de participantes: 12
O workshop será dado em francês e/ou inglês

O coreógrafo Faustin Linyekula é uma das mais importantes figuras das artes no Congo. Tendo começado a sua carreira no teatro, o que viria a marcar a sua criação coreográfica, Linyekula desenvolveu a sua carreira de coreógrafo na Europa, colaborando com alguns dos mais interessantes projectos da dança contemporânea. Naquilo que foi classificado como uma “escolha de resistência”, abandona o seu percurso europeu e regressa ao Congo para fundar o Studio Kabako. Com essa estrutura, tem criado as suas obras nos últimos anos, criando um espaço artístico inovador no seu país natal e continuando a fazer digressão na Europa, nomeadamente no Festival de Avignon, onde a sua mais recente peça foi apresentada.


Período de candidaturas: de 15 de Abril a 7 de Maio
Inscrições no Teatro Maria Matos, através do site www.teatromariamatos.egeac.pt; na bilheteira, de 3ª a domingo das 15H às 22H; ou via postal, para Projecto Educativo Teatro Maria Matos, Rua Bulhão Pato, 1B, 1700-081 Lisboa
Mais informações contacte: Projecto Educativo Teatro Maria Matos
tel. 218 438 800 ou projectoeducativo.teatromariamatos@egeac.pt
Uma produção Mundo Perfeito e Teatro Maria Matos
Co-produção Festival de Almada 2008, Alkantara Festival, CAPa e Casa das Artes de Vila nova de Famalicão

Inscrições abertas até 7 de Maio



Inscrições em www.teatromariamatos.egeac.pt

Quatro fotos e um instante de silêncio (Cairo)


Primeira foto: um casal jovem numa velha motorizada serpenteia entre os milhares de automóveis numa das principais avenidas da cidade. Se o mundo tem corações, um deles é o Cairo, batendo furiosamente, em perpétuo movimento. Nem Heródoto, quando escreveu o seu espanto de aqui haver serpentes aladas, podia imaginar que o Cairo se tornasse nesta terra de fantasia. As luzes não se apagam, as lojas não fecham, os carros nunca estacionam. Se nos concentrarmos, os milhares de buzinas ganham sentido. Os carros dialogam, numa grandiosa sinfonia urbana. A tentar saltar da tela, como o detalhe mais importante de uma grande pintura, está este casal, ele de camisa quase aberta e ela de véu a deixar apenas os olhos descobertos, abraçada à cintura dele, os dois montados na velha motorizada. Na foto, ficam apaixonadamente desfocados.
Segunda foto: um autocarro de turismo e dois camelos estacionados do mesmo lado de uma pequena estrada, em frente à Esfinge. É na manhã seguinte à nossa chegada, durante as únicas horas livres desta passagem relâmpago pelo Cairo. Os organizadores do festival que nos recebe nem sequer colocaram a hipótese de não nos levar a Gizé. Não interessa se és turista, se estás em digressão ou em negócios, se vens vender ou comprar. Se estás no Egipto vais às pirâmides e pronto. E pronto, lá viemos. E são efectivamente impressionantes. E toda a gente no mundo devia ter o direito a ir ver as pirâmides. E também é um inferno de turistas loiros a fazer fila e miúdos a enganar os turistas em várias línguas com a história do “monte-se aqui no camelo que eu tiro-lhe uma fotografia”. E até nas pirâmides há trânsito. E pronto.
Terceira foto: a plateia do Teatro Nacional do Cairo, ainda vazia. Faltam cinco minutos para o público entrar. O público será a elite do Cairo, maior metrópole africana. Serão ruidosos a entrar e, apesar dos figurinos a rigor, apesar da seriedade, nunca ficarão em silêncio. Haverá sempre um sussurrar na plateia, como buzinas muito discretas. No final, o aplauso será ruidoso e haverá conversas sonoras no foyer do teatro, antes de partirmos para o hotel.
Quarta foto: a vista da cidade, por volta das cinco da manhã, desde uma varanda do décimo primeiro andar do Hotel Oum Koultum. É um velho hotel junto ao Nilo, que carrega o nome da maior diva da música árabe. Daqui a umas horas partimos para o aeroporto, depois de apenas um dia nesta cidade. De súbito, ouvimos centenas de vozes que partem dos minaretes das mesquitas a chamar para a primeira oração do dia. O som vem de todos os lados. Depois silêncio. Nem buzinas, nem motores, nem a água do Nilo. Uma cidade de dezoito milhões de almas em silêncio por um instante. O ruído voltará, como uma avalanche de vida, mas durante aquele instante de silêncio foi quase possível acreditar em deus.

Tiago Rodrigues
Novembro de 2007
(originalmente publicado no suplemento Actual do semanário Expresso)