A Festa na Imprensa
"Pela janela vê-se o fogo de artifício na outra banda. Mas do lado de dentro, o jantar que estes sete montaram é um desastre com elevada percentagem de vítimas. É para isto que servem as festas, para uns com os outros embirrarmos com acintosa precisão? O elenco de criadores de A Festa responde sim – ou pelo menos que assim é no retrato que criaram desse complexo exercício de relações públicas que são as festas.
Estreia do Festival de Teatro de Almada, esta peça sai directamente do projecto Estúdios (uma colaboração da produtora Mundo Perfeito com o Teatro Maria Matos destinada à descoberta de nova dramaturgia), este ano concretizado em três oficinas, dirigidas por Pavol Liska e Kelly Cooper, dos Nature Theatre of Oklahoma, o realizador João Canijo e o coreógrafo Faustin Linyekula. O trabalho foi orientado para o tema da festa e, de metodologia em metodologia e de experiência pessoal em experiência pessoal, Filipe Homem Fonseca, Nelson Guerreiro e Tiago Rodrigues compuseram o texto que Rodrigues interpreta com Cátia Pinheiro, Cláudia Gaiolas, Joaquim Horta, Marcello Urgeghe, Rita Blanco e Tónan Quito, sobre cenário e desenho de luz de Thomas Walgrave".
"Voltando às festas cristalizadas em A Festa. Diz a regra que corre tudo bem até um ou uma dizer o que não deve e alguém levar a coisa mais a peito. Nessa altura, seja qual for a categoria de festa, mas principalmente nas “entre amigos” ou “de colegas”, enquanto uns tomam partido, outros procuram apaziguar e alguns simplesmente assobiam para o lado, a festa está definitivamente estragada. É o que acontece nesta peça de criação colectiva em que as personagens representam atitudes, comportamentos, posturas e reacções como quem vive um ritual disfarçado de celebração. Em cena estão a máscara social, abalada logo ao terceiro copo ou ao segundo charro ou à primeira pastilha, claro; os protocolos que regulam a função, a obrigação totalitária de divertimento, o exibicionismo; mas também a comunhão e a partilha e a lealdade, isto é, a razão oficial da convocação destes eventos.
Como os criadores e intérpretes não revelam o passado das personagens, nada de subjectivo distrai do que é essencial ao entrecho: a exibição da espuma onde assentam relações tecidas por razões das mais variadas. Assim, com economia, competência e brio realçam a teatralidade própria do comportamento festivo, ao mesmo tempo elaborando um espectáculo que aponta a hipocrisia sem ferir susceptibilidades nem pregar moral".
Rui Monteiro, Time Out Lisboa
Estreia do Festival de Teatro de Almada, esta peça sai directamente do projecto Estúdios (uma colaboração da produtora Mundo Perfeito com o Teatro Maria Matos destinada à descoberta de nova dramaturgia), este ano concretizado em três oficinas, dirigidas por Pavol Liska e Kelly Cooper, dos Nature Theatre of Oklahoma, o realizador João Canijo e o coreógrafo Faustin Linyekula. O trabalho foi orientado para o tema da festa e, de metodologia em metodologia e de experiência pessoal em experiência pessoal, Filipe Homem Fonseca, Nelson Guerreiro e Tiago Rodrigues compuseram o texto que Rodrigues interpreta com Cátia Pinheiro, Cláudia Gaiolas, Joaquim Horta, Marcello Urgeghe, Rita Blanco e Tónan Quito, sobre cenário e desenho de luz de Thomas Walgrave".
"Voltando às festas cristalizadas em A Festa. Diz a regra que corre tudo bem até um ou uma dizer o que não deve e alguém levar a coisa mais a peito. Nessa altura, seja qual for a categoria de festa, mas principalmente nas “entre amigos” ou “de colegas”, enquanto uns tomam partido, outros procuram apaziguar e alguns simplesmente assobiam para o lado, a festa está definitivamente estragada. É o que acontece nesta peça de criação colectiva em que as personagens representam atitudes, comportamentos, posturas e reacções como quem vive um ritual disfarçado de celebração. Em cena estão a máscara social, abalada logo ao terceiro copo ou ao segundo charro ou à primeira pastilha, claro; os protocolos que regulam a função, a obrigação totalitária de divertimento, o exibicionismo; mas também a comunhão e a partilha e a lealdade, isto é, a razão oficial da convocação destes eventos.
Como os criadores e intérpretes não revelam o passado das personagens, nada de subjectivo distrai do que é essencial ao entrecho: a exibição da espuma onde assentam relações tecidas por razões das mais variadas. Assim, com economia, competência e brio realçam a teatralidade própria do comportamento festivo, ao mesmo tempo elaborando um espectáculo que aponta a hipocrisia sem ferir susceptibilidades nem pregar moral".
Rui Monteiro, Time Out Lisboa
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