mundo perfeito

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20.7.04

Que inimigo gostavas de tornar teu amigo, para não teres que continuar a esconder a admiração que sentes por ele?

Desde que o Frank Vercruyssen, da companhia Tg STAN, esteve em Lisboa, no Teatro Maria Matos, a apresentar o espectáculo "Questionism" que sou torturado por esta, de entre as várias perguntas que o actor nos colocou (a nós, público). Eram perguntas do autor suíço Max Frisch, que foi um génio apesar do país em que nasceu. Das centenas de perguntas que escreveu no seu diário e das dezenas que o Frank seleccionou para o espectáculo, esta tem ecoado no meu aparelho auditivo durante meses. E é curioso, porque desde o momento em que a ouvi que sei a resposta. Não é, por isso, a procura de uma resposta acertada que me tortura. É antes o que a pergunta provoca de outras perguntas em mim.

19.7.04

Telefone noctívago

Na era dos telemóveis de terceira geração, fico com um sorriso nos lábios ao notar o quão utilizada é a cabina telefónica em frente à minha casa. Durante o dia, parece um bloco de metal solitário e triste, como uma estátua distorcida, imóvel, riscada. Mas quando fico a escrever, junto à janela, pela noite dentro, como hoje, observo a cabina ganhar vida.
De janela aberta, apesar das melgas que vêm contra o candeeiro e o monitor do computador, ouço as vozes dos utilizadores do telefone público. Ouço-os, mas não os entendo. No princípio da noite, aparecem os caboverdianos. Também os angolanos. A partir das duas da manhã, o telefone passa a ligar para a Ucrânia, a Moldávia. Conforme a hora da noite, as línguas faladas na cabina telefónica mudam. Aquele telefone público obedece ao fuso horário do mundo.
Só então percebo o aspecto triste da cabina telefónica, solitária, durante o dia. Está a dormir. O telefone público da minha rua vive em outras longitudes e latitudes.


18.7.04

Sem bigode

Ariel Sharon apela aos 600 mil judeus franceses (ou antes, franceses de confissão judaica) que vão viver para Israel, escapando assim ao alegado anti-semitismo gaulês. Os líderes religiosos judeus de França já revelaram a sua indignação para com o primeiro ministro israelita, tal como o fez o ministro dos Negócio Estrangeiros francês. Parece que Ariel Sharon se esqueceu da última vez que tentaram meter os judeus todos num sítio rodeado de um grande muro. Nessa altura, o autor do apelo também era um chefe de governo. Tinha outros motivos e usava um bigode à Charlot. É curioso notar que Sharon não precisa do bigode para parecer ridículo.

17.7.04

Reanimação

Ouvindo o discurso do novo primeiro ministro do nosso país, dou-me conta que há muito tempo que não escrevo neste blogue. Se for sincero, considerava-o até um pouco moribundo. Mas ouvindo o novo primeiro ministro de Portugal discursar durante a sua tomada de posse, percebo também que nunca fez tanto sentido escrever publicamente o que penso. Afastem-se... 1, 2, 3. Desfribilhação. O corpo do blogue treme. O sangue volta a circular nas veias. Os pulmões voltam a funcionar. O Mundo Perfeito foi reanimado.
 
 

4.7.04

Quase

Um dia. Um de nós. Ou um dos nossos filhos. Há-de chegar mais além que quase. E nós choraremos à mesma.