mundo perfeito

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17.6.04

Crise

Por razões várias, o blogue continua sem actualização. Espero que no fim de semana, esta situação esteja resolvida. Até lá.

14.6.04

Intervalo

Vai o aviso aos poucos mas fiéis leitores. Na última semana, este blog não foi actualizado devido à minha ida aos Açores em digressão. No entanto, escrevi um post por cada dia que lá passei.
Regressado para votar, tenho agora algum trabalho acumulado, pelo que apenas quarta-feira actualizarei o blog e publicarei os posts insulares. Aproveitarei para fazer algumas alterações e melhorias no blog, retomando o desafio da escrita diária.
Até lá.

6.6.04

A inquietação optimista

Na última semana, tivemos a rara oportunidade de ler duas óptimas entrevistas a Jorge Sampaio. A primeira a 1 de Junho, a marcar a remodelação do diário A Capital, e a segunda hoje, na revista Pública. Tanto na conversa com o Luís Osório, como na que hoje publica Maria João Seixas, Sampaio fala da sua eterna insatisfação, da sua serena inquietação, do seu optimismo.
Na entrevista à Capital, o Presidente foi talvez mais surpreendente. Pudemos ler, naquelas páginas, um Jorge Sampaio que mantém a mesma paixão de sempre pelo trabalho político e que nunca prescindiu de se fazer mover por convicções. Mesmo quando sabemos que essas são as primeiras a perder-se nos corredores do poder. No entanto, na entrevista à nova Capital, Sampaio deixou claro que terá sido pouca a transformação que os corredores do poder exerceram sobre ele (mais alguns cabelos brancos, ele próprio o admite). Terá sido mais a influência que Sampaio exerceu no poder tal como o conhecemos em Portugal. É essa, pelo menos, a minha leitura.
Já na entrevista que sai hoje no Público, a proximidade geracional com Maria João Seixas empurra Jorge Sampaio para um discurso mais recheado de memórias, embora nunca nostálgico. Aliás, essa é a nota dominante do discurso: a forma como o Presidente olha para o seu percurso e o passado do país, fazendo a ponte com o presente e, sobretudo, o futuro.
No final da leitura de qualquer uma das entrevistas, algumas coisas são claras. Em primeiro lugar, penso que temos a sorte de ter um Presidente que é, em simultâneo, um dos mais lúcidos observadores do nosso país. No entanto, essa lucidez não o impede, como seria previsível, de ser um optimista em relação ao futuro de Portugal. Em ambas entrevistas, ouvimo-lo falar incessantemente na aposta na educação e na qualificação dos nossos quadros. Em ambas entrevistas, é fácil perceber que não há lugar a demagogias quando Sampaio nos confessa que todos os dias se pergunta o que é que pode fazer mais para ajudar o país.
Tendo em conta o momento especial que vivemos neste mês de Junho, as duas entrevistas do Presidente da República foram uma óptima notícia. Com tanto anúncio de retoma, tantas iniciativas para tentar recuperar a moral e a confiança dos portugueses, tanto Rock, tanto Euro 2004, tantas marchas populares, feiras eleitorais e efemérides patrioteiras, com tudo isto... é bom sentir que pelo menos uma razão para me sentir confiante com o futuro do país não é fogo de artifício. Obrigado, senhor Presidente.

Palavras incontornáveis

"Incontornável" é talvez uma das palavras mais em voga nos últimos anos. Começou na comunicação social (leia-se, televisão) rapidamente transbordando para as ruas. Terá começado em ruas mais bem frequentadas e, súbito, tornou-se uma palavra "incontornável", passando desde aí a visitar qualquer rua de qualquer bairro.
Deve haver um estudo sobre este fenómeno das palavras e expressões que viram moda. Gostava de o conhecer. Estou francamente interessado no tema.
Durante uns tempos, falou-se muito da "reportagem possível". "Esta foi a reportagem possível", diria a jornalista por estar a chover ou o entrevistado ter tido um súbito ataque de gaguez. Mas julgo que, depois do Carlos Fino ter sido atacado no Iraque e a Maria João Ruela ter levado um tiro, a "reportagem possível" ganhou novos contornos.
No entanto, verifico que há uma nova palavra da moda. Desta feita, não nasceu na televisão. Se não me engano no roteiro, começou a ser muito repetida na blogosfera e começa agora a ter um grau de incidência bastante elevado na imprensa. A palavra é "despiciendo".

As palavras incontornáveis são sinais dos tempos, o que não é despiciendo, é apenas a reportagem possível.

5.6.04

O peso dos livros

A feira do livro pode estar mais pobre do que há uns anos, menos concorrida, com paupérrimos índices de vendas, limitada no espaço, diluída no circo mediático do futebol, do rock e das eleições, etc., etc., etc.

Mas ainda está por inventar uma tarde melhor que esta de rebentar o cheque acabado de receber e sentir a filha tornar-se cada vez mais pesada enquanto adormece ao colo do pai que sobe o parque a sonhar com os livros acabados de comprar.

4.6.04

Eça Profeta

"A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo", escrevia Eça numa "Farpa" de Junho de 1871. Os escritos que não perdem actualidade chamam-se clássicos, não é?

3.6.04

A cruel conclusão da aula de Évora

Fui ontem a Évora dar uma aula a um grupo de alunos do curso de Estudos Teatrais da Universidade de Évora, amavelmente convidado pelo Prof. José Alberto Ferreira, organizador do seminário. Tive a oportunidade de falar e responder a perguntas sobre a minha colaboração regular com a companhia belga STAN e sobre os meus projectos de teatro, de televisão e de escrita em Portugal. Em suma, (vaidade das vaidades!) durante 3 horas fui objecto de estudo de um grupo de universitários.

Além dos prós e contras óbvios de me explanar sobre o meu percurso (aborreço-me a mim próprio com extrema facilidade), esta aula teve um aspecto muito interessante. Ignoro se foi um instrumento realmente válido para a aprendizagem do grupo de pessoas que estava naquela sala comigo. No entanto, levou-me a uma conclusão cruel e lúcida. É o tipo de conclusão a que um balanço de vida, se for feito honestamente, acaba sempre por levar. De todos os projectos artísticos ou da área da comunicação em que já estive envolvido, os únicos que suscitaram o interesse dos estudantes foram aqueles que nunca me serviram para pagar a renda de casa.

2.6.04

“Poetas morrem mais cedo”

Há cerca de um mês, foi divulgada uma investigação realizada nos EUA, acerca da esperança de vida dos escritores. “James Kaufman, da Universidade Estatal da California, estudou o percurso de 1987 escritores mortos de todo o mundo”, informa-nos a breve do jornal Público. Ao que parece, os poetas são os que morrem mais cedo. Kaufman (que curioso nome para o investigador!) descobriu ainda que os poetas também têm mais tendência para sofrer de doenças mentais.

Talvez seja altura de nos juntarmos e exigirmos, à semelhança do que já foi feito com as empresas tabaqueiras, indemnizações às bibliotecas, às escolas, a todas as entidades que promovem o gosto pela leitura e pela poesia. Eu, por exemplo, não tinha a informação suficiente em meu poder e acabei por publicar um livro de versos em edição de autor. Além de meter saído do bolso, ainda perco anos de vida? Os poemas eram assim tão maus que o seu autor mereça pena capital? Não descansarei enquanto não forem punidos os verdadeiros responsáveis. Ilegalize-se a poesia, já. Avisem-se os pais de adolescentes que começam agora a ser desencaminhados por versos imberbes.

Ou então limitemo-nos a dar-nos por felizes em morrer cedo e poeticamente.

1.6.04

promessa infantil

Estamos nos últimos minutos do dia da criança. Talvez seja o momento de fazer algo tão infantil como prometer-vos e a mim próprio escrever diariamente neste blogue. E não julguem alguns de vocês que eu não vejo esse sorriso escarninho. É que é exactamente o mesmo sorriso que me ocupa o rosto. O cinismo na medida certa para ainda ter alguma esperança. É isso o meu sorriso nestes últimos minutos do dia da criança.