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27.4.04

Conversa no bar do Maria Matos II

Ainda após o espectáculo "Questionism", já no bar, o Thomas Walgrave conta que, há dois anos, esteve em Jerusalém. Foi numa das alturas do ano em que a hora muda. Alguns dias depois de ele chegar a Jerusalém, a hora devia mudar. No entanto, as autoriadades palestinianas, talvez por falta de armas mais eficazes, resolveram usar a mudança de hora como instrumento de contestação em relação a Israel. Assim, os palestinianos mudaram a hora uma semana antes do que era suposto.
Na zona palestiniana isto não era problemático, tal como o não era em Telavive ou outras áreas israelitas. Mas em Jerusalém, onde existem organizaçãoes israelitas e palestinianas em precária coabitação, esta situação gerou o caos. As lojas palestinianas fechavam com uma hora de diferença das israelitas. As empresas, as escolas, etc.
O Thomas falhou vários compromissos porque as próprias embaixadas estavam confusas. A embaixada holandesa funcionava segundo a hora israelita, ao passo que a embaixada belga funcionava segundo a hora palestiniana. Esta tomada de posição, aparentemente simbólica, dos palestinianos, tinha-se tornado numa verdadeira dor de cabeça para os israelitas e ameaçava ser bastante prejudicial, sobretudo financeiramente. Alguns dias mais tarde, os israelitas viram-se obrigados a antecipar também a mudança da hora e viver no mesmo «tempo» em que os palestinianos.
Ainda assim, durante os dias em que as horas dos dois povos eram distintas, as ruas de Jerusalém encheram-se de soldados israelitas. Os soldados mandavam parar transeuntes, a quem não pediam os documentos, mas a quem perguntavam as horas. Se a hora revelada pelo relógio de pulso fosse a palestiniana, davam uma coronhada no mostrador. Como se pudessem fazer algo contra o tempo ou a raiva.